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Zilia Technologies

O Clube de Engenharia do Brasil, em parceria com a FINEP, promoveu na última quinta-feira (25) um debate estratégico sobre os rumos do país na cadeia global de semicondutores. O encontro, realizado no auditório do Clube, reuniu especialistas para discutir o tema “Como o Brasil deve avançar na cadeia global de semicondutores?”, abordando políticas públicas, investimentos e oportunidades para a indústria nacional.

O evento contou com palestra do professor Adão Villaverde (PUCRS/TECNOPUC), referência no setor, e a participação como debatedores de Rogério Nunes, presidente e CEO da Zilia Technologies, e Ronaldo Aloise Junior, CEO da Tellescom Semicondutores. Representantes da FINEP também trouxeram a perspectiva de financiamento e apoio governamental à pesquisa e à produção nacional.

O momento estratégico dos semicondutores

Em sua exposição, o professor Villaverde destacou que a indústria de semicondutores representa hoje um dos pilares da economia mundial, essencial para áreas como inteligência artificial, veículos elétricos, internet das coisas e telecomunicações. O mercado global deve saltar de US$ 660 bilhões em 2024 para US$ 1,3 trilhão em 2030, impulsionado pela IA e transição energética. “Estamos diante do que chamo de ‘petróleo do milênio’. Não há soberania digital sem domínio da tecnologia de chips”, afirmou.

O pesquisador apontou que o Brasil já possui um ecossistema consolidado, citando design houses, encapsulamento e experiências em frontend, como a Ceitec. Ele defendeu foco em chips maduros – aqueles com nanometria acima de 40 nm –, que representam cerca de 40% do mercado global e oferecem oportunidades para o país sem competir diretamente com líderes como Taiwan e Coreia do Sul.

Villaverde alertou para a concentração da produção no Pacífico Leste e pontos de estrangulamento na cadeia global, enfatizando que “é um grande negócio, mas exige soberania científica, tecnológica e geopolítica”. Ele propôs um estudo nacional para mapear importações intensivas em semicondutores e definir o que produzir localmente, priorizando evidências concretas.

A visão da indústria – perspectiva da Zilia Technologies

Imagem: Rogério Nunes em sua participação no evento. 

Representando a Zilia Technologies, Rogério Nunes reforçou que o país vive um momento histórico para o setor. Fundada em 1989, a Zilia fatura cerca de US$ 500 milhões anualmente, com operações globais e parcerias chinesas, americanas e europeias. Como presidente da Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi), Nunes trouxe uma perspectiva privilegiada sobre o ecossistema nacional.

“Talvez este seja o melhor momento da indústria de semicondutores no Brasil nas últimas três décadas. O país já tem competitividade: produzimos memórias para 50% dos smartphones fabricados aqui”, destacou Nunes. “Mas ainda precisamos de políticas mais ágeis e efetivas para transformar potencial em resultados.”

O executivo enfatizou a importância da nova Lei 14.968/2024, que melhora o posicionamento nacional, mas criticou atrasos em decretos reguladores. “Precisamos de políticas plenas e executáveis para atrair investimentos”, defendeu, reforçando o foco em chips legados e integração global como estratégia pragmática para o país.

Investimentos e infraestrutura

Ronaldo Aloise Junior anunciou planos ambiciosos para implantar quatro fábricas de encapsulamento e teste no Rio Grande do Sul em 10 anos. “Graças ao ecossistema pavimentado por décadas – Padis, universidades e FINEP –, o Brasil está pronto para o ‘reshoring'”, afirmou, referindo-se à desconcentração da produção asiática.

Representando a FINEP, Luiz Sérgio Coutinho apresentou os investimentos da agência: R$ 710 milhões em semicondutores de 2020 a 2025, incluindo R$ 220 milhões na retomada da Ceitec via encomenda tecnológica. “Com o descontingenciamento do FNDCT, temos recursos abundantes para subvenção e crédito a juros baixos”, explicou.

Caminhos para o futuro

Os debatedores convergiram na avaliação de que o Brasil deve concentrar esforços em três frentes estratégicas: a formação de talentos para suprir a crescente demanda por engenheiros especializados no setor, o desenvolvimento de políticas industriais consistentes que viabilizem investimentos de longo prazo e criem ambiente regulatório estável, e o estabelecimento de parcerias estratégicas internacionais, aproveitando o movimento global de diversificação da cadeia de semicondutores.

Para Nunes, o país deve avançar com pragmatismo: “O Brasil não precisa competir imediatamente em chips de última geração. Mas tem condições de liderar na produção de dispositivos maduros, essenciais para setores como energia, mobilidade elétrica, saúde e agricultura. Isso já nos colocaria no mapa global de forma relevante.”

O encontro reforçou a necessidade de articular governo, academia e indústria em torno de uma rota tecnológica clara para semicondutores, com continuidade de políticas e visão de longo prazo. Márcio Girão, ex-diretor da FINEP e mediador do evento, defendeu a criação de roadmaps detalhados: “Não basta estratégia; precisamos de um mapa para alavancar ciência, engenharia e inovação”.

O debate ocorreu em sintonia com a agenda de reindustrialização do governo, alinhada à Nova Indústria Brasil, sinalizando que o país pode conquistar posição estratégica na cadeia global. Com políticas ousadas e parcerias internacionais, especialistas concordam que o Brasil tem potencial para alcançar soberania digital e transformar semicondutores em motor de desenvolvimento econômico.