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Zilia Technologies


A indústria de semicondutores é a espinha dorsal da economia contemporânea. Presente em tudo, de smartphones a equipamentos médicos e automóveis, suas aplicações tornaram-se essenciais para o funcionamento do mundo moderno. A crescente demanda global e a reconfiguração da cadeia produtiva internacional colocam o Brasil diante de uma oportunidade única de ampliar sua participação nesse setor estratégico. Mas será que o país está preparado para assumir um papel mais relevante na fabricação e inovação em semicondutores?

A fabricação de semicondutores envolve três etapas principais: design (projeto do chip), fabricação (processo de manufatura dos circuitos em wafers de silício) e encapsulamento/teste (fase final, em que os chips são embutidos em produtos finais chamados de circuitos integrados e testados antes da comercialização). O Brasil já tem uma boa estrutura com produção relevante nesta última etapa de encapsulamento e teste, que exige uma engenharia avançada, já que nela os chips têm suas funcionalidades avaliadas em aplicações reais em diferentes indústrias, como TI, telecom, automotiva, saúde, bens de produção, entre outras. 

Esta etapa da cadeia produtiva representa cerca de US$ 60 bilhões anualmente no mercado de semicondutores, somente em prestação de serviços, o que responde por aproximadamente 12% do setor globalmente. Essa monta não inclui os investimentos dos grandes fabricantes mundiais que fazem esta etapa de forma verticalizada. Nos últimos anos, empresas brasileiras já investiram mais de US$ 2,5 bilhões no setor de encapsulamento e teste, mostrando que há capacidade instalada e conhecimento acumulado para avançar ainda mais.

O cenário geopolítico atual favorece a descentralização da produção de semicondutores, reduzindo a dependência da Ásia. O Brasil, sem restrições comerciais com os principais players do setor, como EUA e China, tem uma posição privilegiada para atrair investimentos e integrar-se mais fortemente ao mercado global. No entanto, para que isso aconteça, é essencial garantir um ambiente regulatório estável e incentivos financeiros de longo prazo.

O programa Brasil Semicon e o salto para 2025

Um dos avanços mais significativos para a indústria nacional é o recém-lançado Programa Brasil Semicon, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em setembro de 2024, na Lei 14.968/24. Com a nova legislação, o setor de semicondutores, representado pela Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi), anunciou investimentos de R$ 24,8 bilhões em pesquisa e desenvolvimento (P&D), aumento da capacidade produtiva e expansão de fábricas até 2035. Esse impulso é essencial para inserir o Brasil no mercado internacional de semicondutores, com expectativa de exportação dos chips “Made in Brazil” para mercados estratégicos como Estados Unidos e Europa.

A lei também atualizou e ampliou o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis) e representa um divisor de águas para o setor no Brasil. Além de prorrogar os incentivos até 2029, e que poderão ser prorrogados até 2073, conforme projeto em tramitação no congresso nacional, a nova legislação permitirá um aporte anual de R$ 7 bilhões para fortalecer a cadeia produtiva nacional, incluindo a fabricação de chips, painéis solares e eletroeletrônicos. Esse movimento estratégico visa reduzir os custos de produção, atrair investimentos estrangeiros e posicionar o país nas cadeias globais de tecnologia de ponta.

As iniciativas estão alinhadas com os objetivos da Missão 4 da Nova Indústria Brasil (NIB), que visam impulsionar a transformação digital no país, abrangendo desde a fabricação de chips e robôs até a implantação de datacenters, redes de infraestrutura e eletromobilidade. O fortalecimento da indústria de semicondutores no Brasil é um passo decisivo para consolidar o país como um player global na era da inovação e da alta tecnologia.

Ministra de CT&I, Luciana Santos e Rogério Nunes (esq) durante o lançamento do Brasil Semicon. Foto de divulgação do MCTI. 

Zilia e o avanço da indústria nacional

Neste contexto, a Zilia Technologies, uma das principais empresas brasileiras de manufatura de componentes semicondutores e dispositivos eletrônicos de memória, anunciou, em 2024, um investimento de R$ 650 milhões no Brasil até o final de 2025. O aporte reforça o compromisso da companhia com a expansão da sua capacidade produtiva, ampliação do portfólio de produtos e busca por novos mercados, incluindo a exportação.

Do total investido, R$ 475 milhões estão sendo aplicados na modernização das unidades fabris em Atibaia (SP) e Manaus (AM), ampliando a capacidade produtiva. As plantas receberão novas máquinas e equipamentos para encapsulamento e testes de circuitos integrados, além da montagem de dispositivos eletrônicos baseados em semicondutores. Em Atibaia, a empresa já expandiu sua área industrial em 1,5 mil m², com uma linha produtiva focada em novas tecnologias.

Os R$ 175 milhões restantes estão sendo aplicados em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D), com foco na criação de novos produtos, otimização de processos industriais e qualificação de mão de obra. Entre os lançamentos estão componentes de memória como o DDR5 e LPDDR5, uMCP, UFS 4.0 e NAND Flash, além de soluções avançadas em módulos de memória e SSDs de quarta e quinta gerações.

Para Rogério Nunes, CEO da Zilia e presidente da Abisemi, o apoio do governo por meio do novo Padis e do programa Brasil Semicon foi essencial para o crescimento sustentável do setor. “Os semicondutores são a base para o desenvolvimento de todas as outras tecnologias. O apoio do governo é a chave para aumentar a competitividade da indústria nacional e fortalecer parcerias duradouras, inserindo o Brasil no mercado global de chips”, destaca Nunes.

Apesar das vantagens competitivas do Brasil, um grande obstáculo ao avanço da indústria de semicondutores é a escassez de profissionais qualificados. O déficit global de engenheiros especializados no setor já ultrapassa 250 mil vagas, e a situação brasileira reflete essa carência. Hoje, há cerca de 500 projetistas de chips atuando no país, número muito abaixo do necessário para consolidar um ecossistema robusto.

Para suprir essa lacuna, o Brasil precisa expandir programas de capacitação e estimular a formação de engenheiros eletrônicos, físicos e especialistas em computação com foco na indústria de semicondutores. Instituições como a USP, Unicamp e o Instituto de Pesquisas Eldorado já desenvolvem projetos inovadores na área, assim como outras importantes universidades e institutos em todo o país, que têm avançado em pesquisas e formação de profissionais no setor. É preciso fortalecer essas iniciativas e criar novas parcerias entre universidades, empresas e governo para acelerar a qualificação da mão de obra em nível nacional.

Sustentabilidade energética, inovação e geopolítica: os diferenciais brasileiros

A produção de semicondutores tradicionalmente demanda grandes quantidades de água e energia, o que tem gerado preocupações ambientais. O Brasil, com sua matriz energética predominantemente renovável e abundância de recursos naturais, pode se posicionar como um polo de produção sustentável. Tecnologias emergentes, como os chips de carbeto de silício, que reduzem o consumo de energia e são essenciais para veículos elétricos e datacenters, representam um caminho promissor para a indústria nacional.

O país não precisa buscar a autossuficiência completa na fabricação de semicondutores – algo que nem mesmo os Estados Unidos ou a Europa possuem. O caminho mais viável é fortalecer sua inserção na cadeia global, investindo em áreas onde já tem expertise, como encapsulamento e teste, e expandindo suas capacidades em design e fabricação de wafers.

Com investimentos estruturados, incentivos de longo prazo e qualificação profissional, o Brasil pode fortalecer sua base industrial e se tornar um hub estratégico na nova geopolítica dos semicondutores. Além da infraestrutura e do potencial sustentável, o país tem uma vantagem estratégica: sua posição neutra nas disputas comerciais entre China, Estados Unidos e Europa, permitindo que atraia investimentos de diferentes blocos e amplie sua participação na cadeia global. O Brasil está em um momento decisivo – fortalecer essa posição estratégica pode consolidá-lo como um ator relevante na indústria global de semicondutores.